terça-feira, 30 de julho de 2013

CINE- ESPERANÇA

Minha mãe me deu um rio. Era dia do meu aniversário e ela não sabia o que me presentear. Fazia tempo que o mascate não passava naquele lugar esquecido. Se o mascate passasse a minha mãe compraria alguma rapadura ou bolachinha para me presentear. Mas, como não passava o mascate, minha mãe me deu o rio. Era o mesmo rio que passava atrás da nossa casa. Eu estimei o presente mais do que fosse uma rapadura do mascate. Meu irmão ficou sentido porque ele gostava do rio igual aos outros. A mãe prometeu que no aniversário do meu irmão ela iria dar uma árvore pra ele. Uma árvore que fosse coberta de pássaros. Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera para meu irmão. E achei legal. Os pássaros ficariam durante o dia nas margens do meu rio, e à  noite dormiriam na árvore do meu irmão. Meu irmão me provocava assim: minha árvore dava flores lindas em setembro e o seu rio nunca dá flores. Mas eu gozava que a árvore dele não dava peixe. E na verdade o que nos unia de verdade eram os banhos no rio nus entre pássaros! Nesse ponto nossa vida era um afago.

Manoel de Barros














































segunda-feira, 29 de julho de 2013

CINE ESPERANÇA



CINE ESPERANÇA - Pedro Osório/RS 
27 julho de 2013


CINE-ESPERANÇA integra o projeto experimental Paisagem Líquida.  Os assentos do antigo cinema de Pedro Osório (CINE-ESPERANÇA) foram instalados nas margens do Rio Piratini em Julho de 2013. Atualmente a cidade não conta com nenhuma sala de cinema. Propomos a aproximação das pessoas que por ali se encontravam além de resgatar fragmentos da história dessa cidade ao recriar, com esses objetos, um novo lugar. Posteriormente confeccionamos postais com as imagens capturadas durante a ação.

    


O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. Nossa casa foi feita de costas para o rio. Formigas recortam roseiras da avó. Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas desse lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa, Ele me rã, Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inventar os ocasos.
 Manoel de Barros